
Moçambique não canalizou, nos últimos seis meses, 205 milhões de dólares às companhias aéreas internacionais utilizadas por moçambicanos em viagens ao exterior. O país lidera o ranking das nações com maior dívida acumulada no setor, num total de 1,3 mil milhões de dólares. As agências de viagens nacionais apontam a escassez de divisas como a principal causa da retenção dos pagamentos.
Entre outubro de 2024 e abril de 2025, Moçambique posicionou-se no topo da lista dos países com maiores montantes retidos provenientes da compra de bilhetes para voos internacionais. São, ao todo, 205 milhões de dólares congelados.
O país encabeça um grupo de dez nações que concentram 80% dos valores não transferidos às companhias aéreas a nível mundial, segundo dados da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), que estima o montante global em 1,3 mil milhões de dólares.
De acordo com a mesma fonte, o valor retido por Moçambique representa um aumento de 78 milhões de dólares em comparação com o ano anterior, quando se registaram 127 milhões de dólares em pagamentos por efetuar.
A situação preocupa as agências de viagens, que temem um agravamento do já frágil mercado nacional. “Transmite uma imagem negativa e afasta novos investidores e companhias aéreas, que nem sequer equacionam estudar a possibilidade de operar em Moçambique. Tivemos recentemente o caso da Ethiopian Airlines, que suspendeu as suas vendas no país”, lamenta Muhammad Abdullah, CEO da Cotur.
Segundo Abdullah, apesar da companhia continuar a operar em Moçambique, houve um período de cerca de três meses em que não conseguiu efetuar vendas no mercado internacional nem emitir bilhetes aéreos no país, o que considera “grave”. Acrescenta ainda que “há pouco tempo, vivemos situação semelhante com a Kenya Airways, que bloqueou totalmente as vendas no mercado moçambicano.”
Para as agências, a raiz do problema é clara: a falta de divisas. “A questão não está na ausência de vontade ou pagamento por parte das agências, mas sim na escassez de liquidez no mercado nacional, o que dificulta a transferência de valores em dólares para as companhias internacionais”, explica Abdullah.
A Associação das Agências de Viagem de Moçambique considera que o problema pode ser ainda mais profundo, com o Governo como principal catalisador. Segundo a entidade, o Executivo não tem tratado a falta de liquidez com a devida seriedade.
“Parece-me que os nossos dirigentes não têm levado este assunto a peito, com a seriedade necessária. Nós, moçambicanos, temos uma expressão interessante: quando alguém nos deve e não quer pagar, está apenas a entreter-nos. Temos ouvido comunicações do Banco de Moçambique e de outras entidades dizendo que não há problema. Sugerem alargar o número de bancos para fazer shop-around, mas nem sempre isso resulta”, critica João Neves, vice-presidente da AVITUM.
Neves defende a adoção urgente de medidas para evitar que o país seja suspenso do sistema internacional. “É necessário estabelecer planos de pagamento que permitam amortizar a dívida e reduzir a procura por divisas. Acredito que seja possível priorizar certos setores estratégicos e, eventualmente, penalizar ou desincentivar outros, evitando assim as chamadas vendas soto, ou seja, vendas realizadas fora do sistema”, explicou.
Segundo a IATA, embora o valor total de fundos retidos a nível mundial tenha diminuído 25% em relação aos 1,7 mil milhões de dólares registados em outubro de 2024, Moçambique destaca-se negativamente, agravando a sua posição no cenário internacional da aviação. Read More O País – A verdade como notícia
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