
Há doentes com problemas de saúde mental acorrentados, há seis meses e outros um ano, na cidade de Xai-Xai, em Gaza. Familiares dos pacientes dizem que não tiveram outra saída senão os submeter ao tratamento tradicional. O sector da saúde e defensores humanos dizem que além de perigar a saúde dos pacientes a situação configura uma violação flagrante dos direitos humanos.
“Vidas acorrentadas” no coração do bairro Ndambine 2000, na cidade Xai-Xai, província de Gaza. Na sombra de uma árvore, um jovem de 38 anos de idade, trajado de saco, estatelado no chão, uma corrente o prende a dois pneus de tratores afixados por uma barra de ferro grosso, quase 80 quilos, totalmente imobilizado e inconsciente.
Outro jovem de 28 anos de idade preso há uma árvore. Cenário dramático… rostos, sorrisos e histórias que retratam o destino cruel de pessoas que lutam contra as chamadas doenças mentais, em Gaza, sul de Moçambique.
São ao todo três pessoas com problemas de saúde mental acorrentadas, como parte de um tratamento com duração de três meses a um ano. Durante o processo de tratamento a rotina se repete: Comem, dormem, urinam e defecam no mesmo local. Sem acesso adequado a saneamento e cuidados básicos de higiene.
Domingos, nome fictício de um dos jovens que está três meses anos na condição de doente mental, entre os demais, ainda consegue organizar um discurso coerente, embora, por vezes, se perca nas suas memórias…
Porque se perderam no tempo e espaço, eles estão acorrentados, pelas mãos das próprias famílias e crença é de que o seu estado mental tem explicações e saídas na base tradicional. Um dos familiares dos pacientes considera que os serviços de saúde não têm eficácia, por isso, optou por entregar o seu irmão nas mãos de uma “ curandeira”.
“Não os levamos ao hospital, ele tem sido tratado aqui. O hospital é a dona de casa. Recebem remédios e gotas, depois relaxam”, contou o familiar de um paciente.
A responsável do acampamento diz que durante o processo os pacientes são submetidos a um tratamento alternativo à mistura de ervas e orações. Mas demarca distância em relação aos métodos usados para imobilizar os doentes.
“Sem os seus cuidados não recebo o paciente, porque eles têm de comer, tomar banho e mais. Eu administro remédios, oração e depois cura. Eu não acorrento os doentes, os seus responsáveis é que compram cadeado e correntes”, disse a médica tradicional.
Aida Ricardo, responsável de saúde mental na maior unidade sanitária da província, desencoraja o procedimento, porque pode levar os doentes a estresse pós-traumático, desnutrição, infecções, atrofia muscular.
Moçambique é único país lusófono de 60 países do mundo, que ainda regista casos de doentes mentais ainda submetidos a tratamentos que ferem os direitos humanos.
Carlos Mula, defensor dos direitos humanos, questiona o silêncio da população, autoridades locais, policiais e judiciais face à violação flagrante dos direitos humanos. O defensor defende que é necessário intervir com urgência.
O hospital provincial de Xai-Xai atendeu nos últimos dois anos quase 10 mil pacientes que padeciam de doenças mentais. Read More O País – A verdade como notícia
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