Abril 21, 2025

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A revolta no canal de Inhambane: operadores exigem igualdade na travessia marítima

 No coração da província de Inhambane, onde o mar serve de ponte entre sonhos e oportunidades, algo mais do que ondas tem perturbado a travessia entre as cidades de Inhambane e Maxixe. É uma realidade antiga, que carrega consigo revolta, lutas silenciosas e, por fim, gritos de socorro dos operadores de pequenas embarcações. Tudo gira em torno de um nome que já não inspira a tranquilidade que deveria: a embarcação “Boa Viagem”.

Ao longo dos últimos meses, o que deveria ser uma travessia pacífica para mais de 4500 pessoas por dia tornou-se palco de tensões. A causa? A “Boa Viagem”, operada por um privado, ignorava sistematicamente as filas de espera no ponto de atracagem, avançando sem respeitar a ordem de chegada. Para os operadores de pequenas embarcações, este privilégio não declarado era um golpe direto às suas já limitadas oportunidades de trabalho.

Gerson Rangel, porta-voz da Associação dos Transportadores Marítimos de Inhambane (ASTRAMAR), descreve o impacto devastador da situação: “Os pequenos operadores ficaram desamparados. Enquanto alguns esperavam horas para carregar passageiros, outros simplesmente passavam à frente, sem nenhuma consideração pelas regras. Isto gerava perdas enormes, tanto financeiras como emocionais. Como é que alguém consegue trabalhar nessas condições?”, questiona.

Cansados de esperar por uma intervenção que nunca chegava, os operadores decidiram fazer algo raro no setor: pararam as suas atividades e levantaram a voz. Foi uma revolta silenciosa, mas poderosa, que finalmente atraiu a atenção das autoridades.

Numa reunião convocada pelo Governador de Inhambane, Francisco Pagula, operadores e autoridades sentaram-se à mesa para discutir soluções. “Foi um momento tenso, mas necessário”, relata Rangel. “Expusemos o impacto que estas práticas tinham nas nossas vidas e pedimos uma solução justa para todos.”

Dessa reunião, saiu uma medida temporária que trouxe algum alívio. A partir de agora, a “Boa Viagem” terá de respeitar a ordem de chegada no ponto de atracagem. Além disso, só poderá carregar depois que três pequenas embarcações tiverem carregado os seus passageiros. “É uma vitória parcial”, diz Rangel, “mas ainda estamos longe da solução ideal.”

Durante as negociações, também se discutiu o papel da TRANSMARÍTIMA, uma embarcação pública que desempenha um importante serviço social. Segundo Rangel, a TRANSMARÍTIMA transporta gratuitamente idosos, pessoas com deficiência e antigos combatentes. Por isso, foi decidido que esta embarcação poderá carregar após duas pequenas embarcações, garantindo que os mais necessitados não fiquem sem transporte.

“Reconhecemos o trabalho social da TRANSMARÍTIMA. Não é uma questão de privilégios, mas sim de atender necessidades específicas da nossa comunidade. Esta decisão foi tomada em consenso e acreditamos que é justa para todos”, afirma o porta-voz da ASTRAMAR.

Apesar do alívio temporário, os operadores sabem que a luta ainda não terminou. Até junho deste ano, todas as partes envolvidas deverão voltar à mesa de negociações para apresentar propostas definitivas. A ASTRAMAR já tem uma ideia concreta: “Propomos um modelo de carregamento 5 por 1. Isso significa que, para cada cinco pequenas embarcações que carregarem, a ‘Boa Viagem’ poderá operar. É uma forma de garantir justiça sem comprometer a sustentabilidade de ninguém”, explica Rangel.

Para muitos operadores, este trabalho não é apenas uma profissão, mas um meio de sustento para as suas famílias. “O mar é tudo o que temos. Se não conseguirmos trabalhar aqui, onde mais vamos? As autoridades precisam de entender que esta não é apenas uma questão técnica; é uma questão de sobrevivência”, desabafa um operador que prefere não ser identificado.

O que está em jogo é muito mais do que a organização das filas de embarque. A travessia entre Inhambane e Maxixe é a principal via de ligação entre as duas cidades, utilizada por estudantes, comerciantes, trabalhadores e famílias inteiras. Quando as coisas não funcionam, o impacto é sentido por todos.

“Há dias em que chegamos a transportar mais de 4500 pessoas. É uma responsabilidade enorme, e todos nós queremos fazer o melhor. Mas como podemos garantir um bom serviço se as condições não são justas para todos?”, questiona outro operador.

Rangel partilha dessa preocupação e apela à união entre os operadores. “Não podemos deixar que este problema nos divida. O que queremos é um sistema justo, onde todos tenham as mesmas oportunidades. Estamos dispostos a dialogar, mas queremos que as nossas vozes sejam ouvidas”, afirma.

Enquanto junho se aproxima, a esperança é de que as partes envolvidas consigam encontrar uma solução definitiva. Para Gerson Rangel, o futuro do setor depende da capacidade de todos em trabalharem juntos. “O mar é grande o suficiente para todos. O que precisamos é de regras claras e justas, que beneficiem a comunidade como um todo. Só assim poderemos garantir uma travessia segura, eficiente e, acima de tudo, equitativa.”

No final, o mar, que une as cidades de Inhambane e Maxixe, também simboliza os desafios e as oportunidades que todos enfrentam diariamente. É nele que os operadores depositam as suas esperanças, mas também é nele que encontram os seus maiores desafios. A luta por justiça continua, mas, como diz Rangel, “não vamos desistir. Estamos aqui para garantir que ninguém fique para trás.”

Entre as ondas e os ventos que sopram sobre o canal de Inhambane, reina agora a expectativa de dias melhores. Afinal, a luta por justiça e igualdade é uma travessia que todos merecem fazer. Read More O País – A verdade como notícia

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