Abril 17, 2025

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“Zimpeto”: um elefante branco!

 A selecção nacional de futebol vai jogar em Cairo, Egipto, depois da reprovação do Estádio Nacional do Zimpeto pela CAF. Só de logística, prevê-se que a Federação Moçambicana de Futebol gaste mais de 100 mil dólares. O Governo poderá ajudar com algumas despesas. Os adeptos descrevem a situação como vergonhosa e os comentadores desportivos apontam modelos para gestão do Estádio Nacional do Zimpeto.

O Estádio Nacional do Zimpeto foi inaugurado a 23 de Abril de 2011 e foi construído no âmbito dos Jogos Africanos. As obras custaram cerca de 53 milhões de dólares. Mais de 10 anos depois, a imagem aérea da maior e única imponente infra-estrutura do país é bonita, atractiva e de encher os olhos, mas de perto tudo isto não é o que parece.

É que o Estádio Nacional do Zimpeto tem sido, recorrentemente, reprovado pela Confederação Africana de Futebol para jogos internacionais, e isto força os Mambas a jogarem num campo emprestado, fora do país. A última reprovação foi neste mês. No dia 20 de Março, Moçambique vai jogar com Uganda no Cairo, Egipto, e isto tem custos para a Federação Moçambicana de Futebol.

A Federação Moçambicana de Futebol não revelou quanto poderá gastar com o aluguer do Estádio Internacional de Cairo, no Egipto, mas o jornal O País sabe que, só com despesas de passagens aéreas, acomodação e ajudas de custo para toda a delegação, poderá estar acima de 100 mil dólares, o correspondente a mais de seis milhões de Meticais.

A nossa equipa de reportagem soube de uma fonte do Ministério da Juventude e Desportos que o Governo vai apoiar os Mambas nesta deslocação para Cairo e, na terça-feira, poderá reunir-se com a Federação Moçambicana de Futebol para saber das suas necessidades.

JOGAR FORA PODE AFECTAR DESEMPENHO DOS MAMBAS, DIZEM COMENTADORES

Para os amantes do desporto-rei e adeptos dos Mambas, isto é um soco no estômago. Eles não poderão exercer o papel de décimo segundo jogador.

“É inadmissível um país que está no CAN pela segunda vez consecutiva, está no apuramento do mundial, está quase na mesma posição com a Argélia e estão a disputar o primeiro lugar, possivelmente podemos sonhar com mundial, mas como é que nestas condições não tem um estádio aprovado para jogos internacionais? Para mim, o Governo está a falhar bastante. Como é que vamos apoiar a nossa selecção no Egipto? Isso é ridículo, não faz sentido”, disse Eugênio Nhanombe, adepto dos Mambas, com um tom revoltado.

Já os analistas deportivos afirmam que jogar em casa alheia pode afectar o desempenho da selecção nacional de futebol.

“Se nós não conseguirmos a qualificação, se não conseguirmos resultados positivos nesses dois jogos que vamos fazer, sobretudo neste frente a Uganda, naturalmente, a culpa vai recair sobre quem não criou condições para Moçambique não jogar no Estádio Nacional do Zimpeto, porque nós vamos dizer que, se tivéssemos jogado no Zimpeto, de certeza poderíamos ter feito um resultado melhor do que um resultado que poderá acontecer, agora, fora do país”, observou Victor Miguel, dirigente desportivo.

Henrique Aly afirma que isto “pode implicar que haja jogos menos conseguidos. Os jogadores saem, à partida, prejudicados por não terem o apoio do público e, sob o ponto de vista psicológico, isso pode concorrer para que haja uma exibição menos conseguida”.

A Federação Moçambicana de Futebol pode ter escolhido o Estado Internacional de Cairo, Egipto, pela facilidade que os Mambas terão de se deslocar para Argélia, onde se vai defrontar com a selecção nacional daquele país.

JÁ VÃO QUATRO REPROVAÇÕES AO ENZ

E esta não é a primeira vez que o Estádio Nacional do Zimpeto é reprovado e os Mambas jogam fora do país.

De 2021 a esta parte, o Estádio Nacional do Zimpeto já foi reprovado quatro vezes pela CAF, e os motivos são os mesmos: mau estado da relva; más condições dos balneários e não funcionamento de torniquetes.

Por incumprimento desses requisitos, em 2023, os Mambas jogaram contra o Ruanda num campo emprestado na vizinha África do Sul.

Para esse embate, a Federação Moçambicana de Futebol gastou mais de dois milhões de Meticais com o aluguer do FNB Stadium.

 

QUE TIPO DE GESTÃO PARA O ENZ?

As recorrentes reprovações do Estádio Nacional do Zimpeto reacendem o debate sobre o modelo de gestão ideal para esta infra-estrutura do Estado. Neste momento, o Fundo de Promoção Desportiva é a entidade que gere o complexo desportivo e recebe um orçamento para o efeito. Mas é deste tipo de gestão que Zimpeto?

Só para se ter uma ideia, a manutenção do complexo desportivo do Zimpeto custa mais de dois milhões de Meticais por mês, dos quais 250 mil são para cuidar do campo.

Este dinheiro é do Orçamento do Estado e é gerido pelo Fundo de Promoção Desportiva, responsável por garantir a manutenção do Zimpeto.

José Pereira, antigo gestor do Estádio Nacional do Desportivo, revelou ao “O País” que, desde o início, este modelo de gestão seria um fracasso.

“Era um modelo de risco porque, por um lado, na altura não tinha técnicos habilitados para fazer uma gestão de uma infra-estrutura nova em Moçambique daquela dimensão. Não havia experiência sobre a matéria. Por outro lado, envolvia recursos financeiros que o Estado e o Fundo de Promoção Desportiva, por si só, talvez não estariam em condições e era necessário uma parceria. Portanto, o modelo adequado, em vez de ser o Fundo ou o Estado a chamar a si, era o de parceria público-privada. Então, o modelo que ficou foi o misto. Isto passa por buscar parcerias, por via de concurso ou outra via”, revelou José Pereira, antigo gestor do Estádio Nacional do Zimpeto.

E a outra via seria alugar o estádio para eventos não desportivos e os compartimentos à sua volta.

“Não se pode pensar que a rentabilidade do Estádio Nacional do Zimpeto se vai resumir na receita da bilheteira, que não é nada, não resolve nada. É bom que se diga. E, para além dos burlistas, convidados e outros tantos, é igual a zero. Portanto, não é por aí. A rentabilidade de outros espaços, está claro que tem de ser feita. Precisamos de espectáculos musicais robustos em termos financeiros, que na caixa deixem algum valor substancial que possa cobrir investimentos substantivos. Portanto, não estou a falar daqueles espectaculuzinhos que acontecem muitas vezes, de 30 mil Meticais ou 80 Mil Meticais. Isso não é nada, é uma contribuição residual. É preciso que se fale em grandes eventos, grandes espectáculos. Se fizermos uma vez por ano, um grande espectáculo de craveira internacional, não digo que podia resolver a totalidade dos problemas do Estádio, mas podia minimizar”, avançou José Pereira.

Pereira entende que, com um bom modelo de gestão, o Estádio Nacional do Zimpeto poderá ultrapassar os problemas que fazem com que seja recorrentemente reprovado pela CAF.

“É preciso que a reabilitação do Estádio Nacional do Zimpeto para responder aos requisitos da CAF, em paralelo, tenha, logo em seguida, um modelo de gestão que garanta que a degradação não entre na velocidade igual àquela a que nós assistimos desde 2011 até hoje. Não temos um campo de treino e, quando não temos um campo de treino, significa que há uma sobrecarga do campo principal, e, quando isto acontece, é óbvio que tanto o solo como a relva não aguentam. Dispensa comentários”, explicou o antigo gestor do Estádio Nacional do Zimpeto.

Já o jornalista desportivo, Henrique Aly, é da opinião de que a gestão do Estádio Nacional do Zimpeto deve ser totalmente privada.

“A receita é simples: deixar que essa gestão e todos os encargos financeiros estejam a cargo de uma entidade terceira, não se proibindo o Estado de continuar a ser titular daquela infra-estrutura e podendo utilizá-la quando assim o entende, obviamente, dando prioridade aos jogos das suas selecções e a outros eventos que queira fazer acontecer naquele recinto. Este, para mim, é o caminho que deve ser seguido pelo Estado moçambicano antes de criar direcções, comissões e seja lá o que for, porque, nesse exercício, o que vamos conseguir é continuar a colocar um peso desnecessário nas costas de um Estado, que já tem mil e um preocupações”, sugeriu Henrique Aly, jornalista desportivo.

O dirigente desportivo, Victor Miguel, defende que Moçambique deve copiar o modelo de gestão de estádios de outros países ou deixar que o Zimpeto seja gerido por alguns clubes.

“Era importante, aqui, que o Governo encontrasse um parceiro a nível interno. Quer dizer, os próprios clubes podem fazer isso. Há vários clubes, a nível da Cidade de Maputo, que não têm campo. Se à própria federação não pode ser entregue a gestão, mas pode ser feita com os próprios clubes para fazerem a sua manutenção e, depois, negocia-se os custos para o clube e benefícios para o Governo. Só não podemos deixar o Estádio que está ao deus dará”, avançou Victor Miguel, dirigente desportivo.

Mais do que criar uma direcção específica para gerir o Estádio Nacional do Zimpeto, Victor Miguel diz que é preciso colocar nela pessoas competentes. 

“É preciso colocar pessoas formadas nessas áreas, e nós temos neste país. Devemos colocar quadros que têm competências para isso, do que estarmos a gastar rios de dinheiro e depois as coisas não estarem a ser feitas como deve ser ou o que se recomenda e terminamos nessa vergonhosa reprovação constante”, referiu Victor Miguel.

O ministro da Juventude e Desportos, Caifadine Manasse, equacionou, na semana passada, a possibilidade de se criar uma direcção específica para a gestão do Estádio Nacional do Zimpeto, a qual será responsabilizada por qualquer acto que não der certo. Read More O País – A verdade como notícia

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