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83% da população não tem acesso a seguros no país

Apenas 17 por cento da população moçambicana tem acesso aos serviços de seguros. O facto deve-se à existência de pacotes de seguros que não correspondem ao interesse das pessoas. O facto foi apresentado, esta quarta-feira, durante a segunda conferência anual de seguros.

Cerca de 83 por cento dos moçambicanos não usam os serviços de seguros, e isso desafia o sector a adoptar pacotes que respondam às reais necessidades das pessoas. A informação foi avançada pelo o representante do Standard Fundo de Pensões.

“Se outrora era possível nós, enquanto operadores, operarmos de forma isolada, hoje em dia, para darmos vazão ao mercado, temos de criar um novo sistema.

ombinamos o seguro tradicional, a falha de seguro de vida, plano funeral, seguro de saúde, por aí em diante. Então, é dessa forma que nós, enquanto operadores de pensões, também olhamos de forma holística e oferecemos, não um produto ao nosso cliente, mas oferecemos uma solução. Olhamos para o perfil do cliente e dizemos algo que vá ao alcance das suas necessidades”, explicou o representante do Standard Fundo de Pensões, Agnaldo Mavera.

Foi falando durante o painel de debate, nesta quarta-feira, sobre o papel da transformação digital e microsseguros na aceleração do acesso aos serviços de seguros, que o administrador-executivo do Instituto de Supervisão de Seguros disse que a educação financeira é crucial para incluir aquelas pessoas que vivem em zonas distantes ou que têm pouco entendimento sobre o que é, como funciona e quais são as vantagens de estar assegurado.

“No contexto da educação financeira em seguros, desenvolvemos várias acções com o objectivo fundamental de poder massificar o conhecimento dos produtos de seguros, de conceitos relacionados à actividade de segurador e inspirado numa base de alargar para as populações que vivem em zonas rurais e, sobretudo, pessoas que normalmente não são alcançadas com canais tradicionais de distribuição de informação.”

Mércio Sitoe explicou, ainda, que o projecto em curso de literacia financeira em seguros é feito nas línguas locais, e buscam-se formas de incluir estes conteúdos no currículo nacional.

Do Brasil, através do conselheiro da Resseguradora do Brasil, António dos Santos, a experiência diz que o seguro deve ser direcionado às populações carenciadas.

“Se você perder a sua bolsa, não vai acontecer nada com a sua vida. Você vai ficar um pouco chateado. Se você perder o seu carro, não vai acontecer nada com a sua vida.

ocê vai ficar um pouco chateado. Mas para aquela pessoa que esperou a vida toda para ter um carrinho de pipoca, ou para ter a sua banquinha, ou para ter o seu carrinho para poder fazer um serviço, para trabalhar, perder aquele trem, e voltar para a classe social anterior. Então, de facto, quem precisa de seguros é o vulnerável.”

O preço do seguro, apontado como um dos desafios para o acesso, principalmente ao seguro de saúde, foi debatido no segundo painel, subordinado ao tema “Serviços privados de saúde e a sustentabilidade das seguradoras”.

Na sua intervenção, Jacques Massingue, que foi orador principal, abordou o facto de as seguradoras e as clínicas privadas estarem numa luta em que um quer sair a ganhar, independente de prejudicar ou não o outro. E nesta operação há alguém que é esquecido, o cliente, ou seja, o paciente, num processo que nomeou como fraudes e uso abusivo dos recursos, e explica.

“Por uso abusivo, estou a falar da atitude oportunista de olhar para um paciente em seguro de saúde como um cheque em branco. Chego ali, eu pergunto: tem seguro ou não? Se a resposta é tem seguro, aí já temos o cheque em branco. Vamos ver o que é que nós podemos facturar. Por que é que não fica mais um dia? Por que é que tem de voltar hoje? Há internamentos desnecessários, há exames médicos desnecessários, há intervenções clínicas e estadias em hospital. Uma pessoa fica no hospital 24/48 horas, não viu o médico”, disse Massingue, CEO da Momentum, apontando esta como uma operação para reduzir os custos administrativos das seguradoras, apesar de lesar o paciente que passará a pagar por um seguro mais caro ou estará retido no hospital porque a seguradora irá recusar-se a pagar o valor das consultas.

No entanto, as opiniões eram divergentes, no que concernia ao facto de afinal quem está a roubar a quem.

E foi o Presidente da Associação dos Hospitais Privados que, embora não tenha conseguido explicar a razão de as facturas tramitadas através das seguradoras serem mais caras em relação a um individual, acusou as seguradoras de se aproveitarem do dinheiro das pessoas.

“Estes trabalhadores, quando entram nas nossas clínicas, na verdade, nós, antes de atendermos, estou falando do plano de saúde (não estou falando do seguro de saúde, eu não entendo nada de seguro de saúde), nós temos uma linha do outro lado, nós temos de entrar em contacto, pedir autorização. Pois, embora ele já tenha cobrado aquele dinheiro, já está com ele no bolso. Nós já atendemos, mas, às vezes, o próprio paciente quer um check-up. E nós apresentamos as facturas, as empresas de plano de saúde simplesmente dizem que não. Porque é que você fez o check-up? Mas, meu caro amigo, aquele dinheiro é do dono, você já recebeu”, disse.
E surgiu um apelo, vindo da plateia.

“Quando nós reconhecemos o facto que nós estarmos a tratar saúde, estamos a tentar, especialmente no sector privado, estamos a tentar dar saúde num nível alto, os custos também são proporcionalmente altos.

E não é culpa de um ou outro que quer defraudar outro. Não, não é isso. Certamente, não é o técnico de saúde que quer fazer isso. O técnico de saúde quer prestar o melhor serviço possível. Não é só no sector privado, mas também no sector público. E sector público, não podemos esquecer por um momento que 99,5% da população moçambicana não tem capacidade de receber nenhum ou todo esse circuito de saúde que nós estamos aqui a falar. Por isso, temos de investir, também, no sistema público”, disse um médico fisioterapeuta.

O bastonário da Ordem dos Médicos também deixou a sua opinião, exigindo respeito e consideração à pessoa, ao paciente, o actor central deste debate, pois, sem ele, nem as clínicas, muito menos as seguradoras teriam razão de existir.

“Este problema da fraude afecta directamente aquele princípio que é de seguros, que é o de mutualismo, não é? Acaba afectando todos aqueles que não cometem a fraude, mas, por conta disso, também vêm os seus prémios depois agravados, porque as empresas seguradoras acabam perdendo, de certa forma, a sua capacidade financeira de atender os vários sinistros que eventualmente depois possa haver dos clientes honestos.”

Ultrapassada a questão dos preços, iniciou-se um outro debate sobre as estratégias de prevenção e detecção de fraudes, e foi ouvido um especialista, Philip Thorne, da Sedwick, que disse que o país está na posição 19 ou 11, dependendo do tipo de pesquisador, a nível de índice de criminalidade na África Austral.

Porém, apesar de o estudo colocar o país distante deste crime, quem opera na área diz que não é bem assim.

“Nós sabemos, na verdade, quem são os membros do Sindicato de Fraude de Moçambique. Nós sabemos. Sabemos. Os autores, Morais, os mandantes, as oficinas, os colaboradores das corredoras, os correctores que andam envolvidos também em fraude. Acho que talvez nos falte uma espécie de coragem de desactivarmos este núcleo e expormos o suficiente para desencorajar-se”, disse Ruben Chivale, presidente do Conselho Directivo da Associação Moçambicana de Seguradoras de Moçambique.
Por isso, apela-se ao envolvimento das seguradoras, dos prestadoras de serviços, do Governo, bem como dos clientes, os principais visados.

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