Setembro 10, 2024

EcoNotícias

Explore o Mundo em uma Única Plataforma! Agregamos Notícias Relevantes para si

“Anjos brancos” reanimam paciente em pleno voo da LAM

Dois médicos moçambicanos reanimaram um paciente que teve paragem cardíaca em pleno voo. O avião saía de Maputo para Pemba, mas teve de aterrar de emergência em Nampula.

Naquela voz típica do pessoal de tripulação que se ouve pelos altifalantes, o jovem comandante Norton Nhantumbo anunciava aos seus passageiros que a aeronave (Boeing 737/700) estava a sobrevoar o espaço aéreo da cidade de Quelimane. Era o voo TM172 do dia 24 de Abril de 2024. O voo saía de Maputo com destino à cidade de Pemba, e a viagem era agradável.

Tudo muda quando, por volta das 13h00, um passageiro começa a convulsionar, morde a língua e entra em paragem cardíaca. O pânico toma conta dos passageiros, sobretudo os que estavam nos assentos próximos.

Os assistentes de cabine accionam no telefone do avião e informam a tripulação sobre o que estava a acontecer e aguardam por uma tomada de decisão imediata.

“A partir do momento em que tomámos conhecimento de estar a ocorrer uma emergência médica a bordo, preparamo-nos para os diferentes cenários possíveis e estudamos rapidamente as opções que temos. A acção final a tomar dependerá sempre de alguns factores: a evolução do estado do passageiro, a posição em que nos encontramos em relação ao voo. O objectivo é que o passageiro tenha a melhor assistência médica possível, o mais rápido possível”, descreve o comandante, falando em exclusivo ao nosso jornal.

O avião estava a uma altitude equivalente a 11 900 metros (quase 12 km). O comandante Norton era coadjuvado pelo co-piloto Djair Faquirá, a chefe de cabine era Manuel Chitata e as assistentes de bordo Amélia da Cruz e Nilza Balate. Todos tinham de tomar uma decisão concertada.

“A tripulação de cabine tudo fez para que rapidamente o passageiro tivesse a ajuda de que necessitava”, diz o comandante, mas, no meio dessa operação de emergência, surge a ideia de perguntar se entre os passageiros havia profissionais de saúde.

“O facto de ter médicos a bordo é tranquilizador, porque, embora os nossos colegas (tripulação de cabine) tenham formação em primeiros socorros, a ajuda de profissionais da área da saúde é sempre bem-vinda, deixa-nos mais confortáveis e certos de que o passageiro terá a melhor assistência possível, dentro das condições específicas de um voo”, detalha.

É nesse momento que dois personagens entram em cena: o médico gineco-obstetra Dinis Viegas Manuel e o médico internista Calima Muagerene que se prontificam a ajudar a reanimar o passageiro que virara paciente.

“Quando nos pediram socorro, eu e o meu colega dissemos ‘vamos ajudar o doente’. Teve uma paragem cardiorespiratória clássica”, explica o Dr. Calima, e o seu colega o Dr. Dinis detalha que “tínhamos que abrir as vias aéreas porque ele tinha mordido a língua e por via disso também fechou as vias aéreas, então não conseguia respirar.

Tivemos de o colocar na posição lateral enquanto o colega iniciava as manobras de massagem cardíaca. Eu fui junto ao pessoal de cabine, identificamos a caixa de emergência que eles tinham e identificamos alguns medicamentos que são utilizados para a reanimação e fizemo-lo.”

A operação durou cerca de dois minutos – tempo que, se se tivesse perdido, podia ter resultado em óbito. O passageiro/paciente ganhou consciência, mas continuava agressivo, pelo que o comandante Norton decidiu levar o aparelho a aterrar de emergência no aeroporto de Nampula, às 13h28, para que o paciente tivesse uma assistência especializada que acabou acontecendo, ao cuidado do Dr. Frederico, o médico neurologista afecto ao Hospital Central de Nampula – aliás, os dois “anjos do avião” também estão afectos a esta unidade sanitária e iam reforçar a equipa do Hospital Provincial de Pemba.

O paciente é um docente universitário que tem um histórico de ataques de epilepsia.

Com tudo controlado, o comandante Norton Nhantumbo – há 11 anos na aviação civil – decidiu promover os dois médicos da classe económica para a executivo, de Nampula a Pemba. “O comandante do voo acabou por tomar esta decisão de passarmos da classe económica para a executiva para mim e o meu colega, e assim se efetuou”, anotou o médico internista, com risos à mistura, não só por ter terminado a viagem na melhor posição no avião, como também pelo final feliz que fez jus ao slogan do Ministério da Saúde: o nosso maior valor é a vida.

About Author